Melodia da ligação a cobrar: como criador de toque famoso foi reconhecido autor do som, mas morreu sem ganhar um real por ele


Curitibano Carlos Roberto de Oliveira Freitas compôs melodia usada por telefônicas do país como aviso de ligação a cobrar. Ele chegou a ter autoria reconhecida, mas família diz ele que não recebeu pela criação. Conheça a história do homem que criou a melodia da ligação a cobrar
Nos idos de 1987, o curitibano Carlos Roberto de Oliveira Freitas não fazia ideia de que uma melodia criada por ele seria nacionalmente conhecida. Não sabia, também, que mesmo com uma criação que faria sucesso, morreria sem ganhar um real sequer por ela.
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Em tempos onde ligações de áudio via internet não eram possíveis em celulares, e em que por crédito nos aparelhos era uma das poucas maneiras de conseguir ligar para alguém, as ligações a cobrar faziam sucesso.
Quem tinha crédito e era acionado nessa modalidade, ouvia a melodia marcante criada por Carlos Roberto, ainda utilizada por algumas empresas telefônicas, precedendo a frase: “Chamada a cobrar. Para aceitá-la, continue na linha após a identificação”.
O filho do compositor, Fábio Bernardo Simioni Freitas, contou que a criação do pai nasceu da provocação de um amigo que ele tinha. O homem, à época, era líder de marketing da extinta Telepar, antiga empresa de telecomunicações do Paraná.
Carlos Roberto, que era baterista, elaborou três versões da melodia usando um sintetizador, de acordo com o filho. A escolha da versão final, como tema para atender o pedido do amigo, foi feita pelo próprio Carlos Roberto.
“Ele teve que criar essas notas musicais para que ficasse muito específico pra poder usar”, contou o filho.
Segundo o filho, após a entrega, o tempo passou e o pai deixou o assunto para lá.
Anos depois, em 1990, ele descobriu que a música era tocada Brasil afora quando recebeu uma ligação a cobrar de um contato do Maranhão. Foi nessa ocasião, também, que ele soube que o toque estava sendo usado até em uma paródia popular: “Tem pobre ligando pra mim”.
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A busca por reconhecimento
Carlos Roberto de Oliveira Freitas
Arquivo da família
Informalmente, por meio de reportagens e no “boca a boca”, foi se espalhando a notícia sobre quem era o autor da melodia. Não havia, porém, reconhecimento formal, tampouco financeiro.
O filho, Fábio, contou que, após intervenção da família, Carlos Roberto se deu conta do impacto de sua criação e passou a acionar mecanismos jurídicos em busca de reconhecimento. A primeira tentativa foi registrar a composição, o que ele fez na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Após, contratou um advogado e moveu uma ação contra as empresas telefônicas do país para ser reconhecido como autor da canção, o que ele conseguiu – a ação, entretanto, não pediu direitos patrimoniais, por isso, ele continuou sem ganhar nada.
“Na época foi feito um levantamento e eram 39 milhões de ligações por dia e, pelo que eu sei, ele teria pedido um centavo por cada ligação, retroativo”, disse o filho.
Carlos Roberto começou uma nova disputa judicial, que se estendeu por muitos anos, também sem um resultado positivo, conforme o filho. O compositor morreu em 5 de agosto de 2024, aos 77 anos de idade. Para o filho, o reconhecimento poderia ter garantido a ele uma vida mais confortável.
Carlos de Freitas, de Curitiba, compôs a música das ligações a cobrar em 1987, após pedido de um amigo
RPC/Reprodução
Há pouco tempo, em dezembro de 2024, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu a favor das empresas, negando o pedido de Carlos Roberto. Segundo a família, o processo ainda não foi encerrado, e há ainda prazo para a apresentação de recurso.
No momento, eles avaliam se darão continuidade à ação.
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