Projeto promove pinturas em casas afetadas pela enchente no RS: ‘Estamos apagando a tristeza’, diz idealizador

“Paredes com Propósito” revitaliza casas destruídas pelas cheias. Primeira fase acontece em Porto Alegre e meta é de 250 casas. Projeto Paredes com Propósito realiza pinturas em casas afetadas pela enchente no RS
Divulgação/ Marcelo Liotti
Casas devastadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, com paredes desbotadas e marcadas pela água, voltam a ganhar vida e cores graças aos voluntários do projeto Paredes com Propósito.
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“Acho que mais que o projeto de revitalizar, é a memória afetiva das coisas e apagar as marcas da enchente. A gente não está só pintando, estamos apagando a tristeza”, relata o artista Jotape.
A iniciativa, que visa reformar as comunidades afetadas pela tragédia ambiental, é do casal formado pelo artista visual Jotape Pax e pela produtora cultural Kami Rosito. A ideia surgiu durante os momentos críticos da enchente, quando a sensação de impotência diante da calamidade levou Jotape e Kami a buscarem uma maneira de contribuir para a recuperação das áreas atingidas.
“Não tínhamos experiência em salvamento, não tínhamos carro, nem botes, como é que a gente pode ajudar? Pensei que a maneira que eu tenho seria na fase de reconstrução, o trabalho braçal de pintura, o conhecimento que eu tenho de cores, de combinação”, relembra.
A produtora cultural Kami Rosito e o artista visual Jotape Pax, idealizadores do Paredes com Propósito
Divulgação/ Marcelo Liotti
O projeto rapidamente ganhou apoio de diferentes frentes. Com a ajuda de marcas de tintas e pincéis, além de uma campanha de arrecadação online, foi possível reunir os materiais necessários.
O processo inicial envolveu mapeamento das áreas afetadas, chamamento de voluntários, coordenação com lideranças locais e um trabalho intenso para organizar a logística do mutirão.
O Paredes com Propósito já realizou dois mutirões, totalizando 84 estabelecimentos pintados. A meta na primeira fase é de 250 casas.
Artista há 20 anos, Jotape começou fazendo grafite aos 17. Hoje, Jotape Pax faz parte da diretoria da Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Para ele, o projeto é um “aprendizado” e cada ação é um trabalho “emocionante”, especialmente ao ver a alegria dos moradores.
“Em um mutirão, perguntamos a uma senhora qual a cor que ela queria na casa. E a senhora se emocionou e falou ‘tu acredita que eu tenho 70 anos e nunca ninguém perguntou que cor que eu quero na minha casa? Eu nunca pude escolher a cor da minha casa. Sempre era o que tinha'”, relata.
Projeto Paredes com Propósito
Mutirões
Na primeira fase, Jotape estima seis mutirões para pintar as 250 residências em Porto Alegre.
O primeiro mutirão aconteceu no Quilombo do Areal, um reduto histórico da cidade, entre 12 e 14 de julho, colorindo 37 casas.
Já o segundo mutirão foi entre 26 e 28 de julho, nos arredores da Escola de Educação Infantil Vitória, no bairro Humaitá, colorindo a instituição e mais de 45 casas do entorno.
O terceiro está programado para acontecer na Vila dos Papeleiros, no bairro Floresta, no final deste mês de agosto.
“É uma comunidade de trabalhadores que têm um papel bem importante na reciclagem e na questão de coleta de resíduos”, esclarece o artista sobre a Vila dos Papeleiros.
“Além de reciclar plástico e papel, eles também têm lixo eletrônico que eles trabalham, então é um trabalho bem bacana. Mas é uma vila grande, então a gente quer chegar de uma maneira concisa, que a gente consiga ser efetivos no que a gente vai se propor a fazer, e para isso a gente precisa de um time maior”, explica.
Em um primeiro momento, a escolha dos lugares para a revitalização se deu a partir do contato com lideranças de comunidades que os organizadores do projeto já conheciam. “Justamente são eles (as lideranças) que conseguem autorização das casas e explicam para os moradores”, conta Jotape.
Para os próximos locais, a iniciativa vai conversar com artistas que moram em lugares atingidos para então mapear casas que precisam de revitalização.
A ideia do Paredes com Propósito é terminar o projeto com quatro fases em 16 meses. De acordo com o artista, há “um objetivo ambicioso de chegar a duas mil casas quando a gente for pro interior do Estado”.
Entre as próximas cidades à vista ao longo das fases, Jotape cita, além de Porto Alegre, Esteio, Canoas, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Guaíba, Lajeado, Pelotas e Rio Grande.
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