
Dona de casa Leila Tavares, de 44 anos, desenvolveu hérnia e passou a precisar improvisar sacos plásticos no lugar das bolsas de colostomia tradicionais. Mulher que espera por cirurgia há nove anos estava em fila errada
A mulher de 44 anos que espera há 9 anos por uma cirurgia de reversão de colostomia no Rio Grande do Norte não estava na fila de regulação pelo procedimento e sim de outro, segundo confirmou a Secretaria de Saúde Pública do estado nesta quarta-feira (11).
Moradora do bairro Felipe Camarão, em Natal, Leila Tavares, de 44 anos, deveria ter realizado cirurgia apenas quatro meses após o procedimento, feito em 2016.
Nesse período, a dona de casa desenvolveu uma hérnia, o que piorou a situação, impedindo o uso de bolsas de colostomia tradicionais.
📳Participe do canal do g1 RN no WhatsApp
🔎 ENTENDA: O objetivo da colostomia é estabelecer uma via alternativa para a eliminação de fezes e gases. Essa abertura, chamada de estoma, permite que as fezes sejam eliminadas diretamente para uma bolsa coletora externa, evitando a passagem pelo reto e pelo ânus. Saiba mais aqui.
Leila ainda usa sacolas de plástico para improvisar as bolsas de colostomia por falta de material na rede estadual. A demora para reverter o procedimento agravou o problema e uma hérnia apareceu no mesmo lugar.
Nesta quarta (11), o secretário de Saúde do RN, Alexandre Motta, disse que Leila não estava na fila de reversão da colostomia e sim para outro procedimento.
“O que provavelmente aconteceu é que houve uma má comunicação para ela, de que ela deveria estar na lista de reversão de colostomia, quando na verdade ela está em outro procedimento. Normalmente, o indivíduo entra pela rede básica que faz o cadastro, o nome desse paciente vai para o sistema de regulação do RN e a partir daí o trâmite segue com a pessoa sendo conduzida para a cirurgia no período correto. A gente lamenta que essa paciente tenha passado por isso”, disse o secretário.
O secretário disse que, por causa da gravidade do caso, a Secretaria procurou Leila para incluir o nome dela na fila correta. Cinco pessoas estão na fila pelo mesmo procedimento no estado e o tempo de espera tem sido de aproximadamente um mês.
“A expectativa é que ela entrando no sistema isso seja o mais diligente possível. Lembrando que do ano passado para cá a gente fez procedimentos iguais ao que ela precisa 79 vezes, então é possível que isso seja diligenciado de forma muito rápida”, disse Motta.
Após contato da pasta, a paciente foi orientada a ir para um avaliação no Hospital Santa Catarina na manhã desta quinta-feira (12).
Sobre as bolsas de colostomia, que estão em falta no centro de reabilitação do estado, a Secretaria de Saúde informou que está finalizando o processo de compra para receber os materiais, mas não deu prazo para a chegada das bolsas.
Leila Tavares, de 44 anos de idade, vive com bolsa de colostomia há 9 anos e improvisa sacos plásticos na falta de bolsas adequadas
Pedro Trindade/Inter TV Cabugi
Avaliação
Após passar por avaliação nesta quinta-feira (11), Leila disse que a médica solicitou realização de exames e que ela perdesse 10 kg para passar pela cirurgia. Segundo a paciente, a médica informou que a reversão da colostomia e a retirada da hérnia devem ocorrer no mesmo momento.
No entanto, a paciente reclamou do fato de ter que solicitar os novos exames no posto de saúde do bairro onde mora, o que, segundo ela, deverá atrasar ainda mais o procedimento.
“Um hospital desse podia marcar esses exames, não mandar eu botar (os documentos) num posto de saúde para passar quantos anos no posto? Me diga. Eu estou cansada de tudo isso, joga para lá, joga para cá e ninguém faz nada e eu morrendo. Por que se eu pegar uma bactéria, quem vai morrer sou eu. Quem vai sentir, quem vai perder são meus filho. Não é estado, não é ninguém. Eu estou indignada, não vou mentir, eu tô indignada, porque dava para eles resolverem o caso”, disse a paciente.
Qualidade de vida
A história começou em 2016, quando Leila Tavares precisou retirar um tumor na região abdominal. A colostomia foi indicada como medida temporária para permitir a cicatrização do local operado. O que era ter durado quatro meses completou nove anos.
Há cerca de três anos, a dona de casa ainda desenvolveu uma hérnia na região, o que impediu o uso de bolsas convencionais. Assim, passou a usar sacos plásticos, o que a fez temer um infecção.
A vida, segundo ela, ficou limitada desde que precisou realizar o procedimento.
“Eu me sinto excluída da sociedade, porque eu não tenho o convívio. A gente se sente envergonhado de estar no meio dos outros, aí suja, e a gente se sente desconfortável”, lamentou.
“Eu não saio daqui da minha casa, só saio se for para uma consulta, para um negócio, mas até para casa dos meus filhos eu me sinto sem vontade, eu não vou”, completou.
Mãe de quatro filhos e avó de nove netos, Leila relata que a condição limita até mesmo as tarefas mais simples do dia a dia. Cozinhar, caminhar ou lavar louça sem dor são coisas que viraram um desafio.
“Eu deixei de viver, porque numa situação dessa…Eu não vou dizer para você que eu vivo, porque eu não vivo. Eu me levanto porque tem que se levantar. A gente tem que correr atrás. Mas não é viver, meu filho, uma situação dessa, não”, disse.
O que é e pra que serve a bolsa de colostomia
Em busca da cirurgia
A dona de casa diz que busca não só a bolsa correta para reduzir riscos de infecção, mas fazer a cirurgia de reversão da colostomia para ter mais qualidade de vida e também se dedicar aos filhos e netos.
“O meu foco é a cirurgia, não é a bolsa. Meu foco é a cirurgia. Eu quero fazer minha cirurgia, eu vou ficar boa, tenho meus netos, tenho meus filhos”, disse.
“Cada dia que passa, a situação só piora e eu tenho medo de de piorar e eu ir embora e deixar meus filhos, meus netos. Não vou mentir para você que meus filhos, meus netos são tudo para mim”.
Leila conta que o dia a dia vivendo dessa forma é desgastante.
“A gente que usa essas bolsas sabe que o que passa por dentro. Você está me vendo por fora. Mas por dentro só eu sei. Gostaria que um médico revisse e pudesse me ajudar a fazer essa cirurgia, porque eu não aguento mais. Eu não aguento mais. É sofrer. Eu sofro muito com isso, muito mesmo”, disse.
Leila Tavares deveria ter feito cirurgia de reversão em 2016
Pedro Trindade/Inter TV Cabugi
Vídeos mais assistidos do g1 RN