Médica suspeita de falsificar aplicações de Mounjaro no PR também é investigada por tirar seringa do lixo e reutilizá-la em paciente


Informação foi repassada por testemunha ao MP-PR. Defesa da médica Bruna Lopes nega acusações e diz que não houve denúncia formal até o momento. Médica é suspeita de atuar com a aplicação de medicamentos para emagrecimento proibidos no Brasil.
Redes sociais/Polícia Civil de Arapongas
A investigação contra a médica Bruna Lopes, presa por estelionato e propaganda enganosa sobre aplicações de Mounjaro, apura se ela reutilizou uma seringa que havia descartada no lixo para aplicações de medicamento em um paciente.
A informação, repassada por uma testemunha ao Ministério Público (MP-PR), conta em uma medida cautelar a qual o g1 teve acesso e que detalha trechos da investigação.
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A médica foi presa em 15 de maio, em Maringá, norte do Paraná. No dia 16, teve a prisão preventiva convertida para domiciliar. Ela está cumprindo a determinação em Colorado, usando tornozeleira eletrônica.
Segundo o depoimento de um dos denunciantes, Bruna fez um funcionário tirar do lixo a seringa para aplicar no paciente.
“Acabava a caneta [de aplicação do medicamento], era jogada no lixo. Mas, só que as farmácias, se ela já comprava no dia uma caneta, não vendia para ela mais. Aí aparecia um paciente na parte da tarde para ter que fazer uma aplicação, ela me fez tirar uma caneta de dentro do lixo e usar nesse paciente. Não tinha nada. Essa caneta tinha sido aplicada antes em outro paciente. E ela aplicou. O paciente não tem entendimento de nada. O paciente não sabia de nada”, destaca o documento.
Momento em que a médica é presa, em Arapongas.
Polícia Civil de Arapongas
Segundo a investigação do Ministério Público do Paraná (MP-PR), a médica é investigada por:
comércio ilegal de Mounjaro;
adulteração de rótulos de medicamentos;
descarte irregular de seringas;
reaproveitamento e compartilhamento de seringas;
não fazer esterilização de máquina para procedimento de endoscopia ou colonoscopia;
afirmação enganosa e omissão de informação sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança de produtos/serviços;
fazer e promover publicidade enganosa;
aplicar soro fisiológico em lugar de medicamento, para iludir os pacientes.
O advogado Luciano Mazeto, que defende a médica, negou as acusações e ressaltou que não foram protocoladas denúncias formais contra ela. Afirma, também, que os procedimentos para descarte foram seguidos corretamente.
“A questão de reutilização de seringa beira até o absurdo”, disse ao g1.
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Entenda o caso
Delegado conta como médica atuava antes de ser presa no PR
Nas redes sociais, conforme o MP, Bruna prometia aplicação de Mounjaro – remédio que é utilizado para tratamento de diabetes e se tornou popular após apresentar resultados também em pessoas que buscam emagrecimento.
O MP-PR informou ao g1 que a médica, que é gastroenterologista e hepatologista, encomendava pequenas quantidades da seringa do medicamento pelos Correios de forma clandestina, antes da autorização da venda.
A quantidade de medicamentos não supriu a demanda dos clientes e, conforme o relato dos denunciantes, ela passou a aplicar Wegovy ou Ozempic – que são mais baratos, promovem emagrecimento e já eram vendidos no país – sem informar os pacientes.
Para essa ocultação, a seringa era coberta com fita crepe ou com uma etiqueta do Mounjaro, conforme o MP-PR. Alguns pacientes que foram ouvidos pela promotoria disseram que perceberam essa troca e a reutilização das canetas.
O delegado Bruno Sentone, que lidera a investigação da Polícia Civil do Paraná (PC-PR), divulgou que uma das pacientes, após receber aplicações, fez tratamento com coquetéis por não saber se foi, ou não, contaminada com alguma doença devido a esta prática de reutilização.
Funcionários formalizaram denúncia
Em março deste ano, o MP-PR informou que recebeu denúncias de funcionários da clínica que Bruna atuava. Eles disseram ter presenciado as irregularidades e temiam ser responsabilizados pela situação.
No dia 24 do mesmo mês, foram cumpridos mandados de busca e apreensão na casa de no consultório da médica, em Colorado, no norte do estado.
À época, o Mounjaro ainda não era vendido no Brasil – regra que foi atualizada em abril pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com exigência de receita médica.
Segundo informado pelo MP-PR, não há indícios de que os proprietários da clínica em que ela atuava estavam cientes da situação.
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