Acusados de jogar soda cáustica em jovem do Paraná serão julgados em júri popular, decide Justiça


Justiça entendeu que houve tentativa de feminicídio. Ex-namorado da jovem, Marlon Ferreira Lemes, foi acusado de planejar o ataque, enquanto a atual companheira, Débora Aparecida Custódio Ferreira, executou o crime. Defesa dela afirma que vai recorrer da decisão. g1 tenta contato com a defesa dele. Jovem é atacada com ácido no meio da rua no norte do Paraná
Reprodução/Arquivo pessoal
O Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) decidiu que os acusados de jogar soda cáustica em Isabelly Aparecida Ferreira Moro em maio de 2024, em Jacarezinho, no norte do Paraná, serão julgados em júri popular. Ainda não há data para o julgamento. Relembre o caso abaixo.
A decisão contra o ex-namorado da jovem, Marlon Ferreira Lemes, e a atual companheira dele, Débora Aparecida Custódio Ferreira, foi publicada na sexta-feira (16), pelo juiz Renato Garcia, da Vara Criminal de Jacarezinho.
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Com base nas provas e depoimentos reunidos, o juiz entendeu que houve tentativa de feminicídio e, por isso, o envolvimento dos acusados deveria ser submetido à análise do Conselho de Sentença, no Tribunal do Júri.
Na decisão, o juiz considerou que o crime foi pratica com os seguintes agravantes:
Recurso que dificultou a defesa da vítima: Por Isabelly ter sido atacada de surpresa pela executora do crime, que para evitar seu reconhecimento pessoal utilizava disfarce;
Motivo torpe: diante do sentimento de posse que Marlon nutria em relação à vítima e de vingança pelo término do relacionamento, enquanto Débora nutria ciúmes e inveja da vítima;
Meio cruel: devido à utilização de soda cáustica, produto químico altamente tóxico e corrosivo com o objetivo de causar intenso sofrimento à Isabelly.
Marlon está preso na Penitenciária Estadual de Londrina e Débora está na Cadeia Pública de Santo Antônio da Plantina.
Em nota ao g1, o advogado Jean Campos, que atua na defesa de Débora, disse que vai recorrer da decisão.
“A decisão judicial que pronunciou a acusada e manteve as qualificadoras do crime de homicídio não reflete a realidade dos autos. A defesa adotará as medidas cabíveis para buscar a correção da decisão junto ao Tribunal de Justiça”, informou a nota.
O g1 tenta contato com a defesa de Marlon.
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Acusados confessaram o crime em depoimento
Marlon Ferreira Neves, acusado de ser o mandante do ataque com soda cáustica
Reprodução/RPC
No documento em que o g1 teve acesso, Marlon e Débora confessaram o crime em um depoimento prestado durante o processo. Eles foram denunciados pelo Ministério Público (MP-PR) no dia 7 de junho de 2024.
Na época do crime, Marlon estava preso por roubo de celular. Ele confessou que, mesmo de dentro da cadeia, planejou o crime com Débora. Ele disse que o objetivo era dar “susto” em Isabelly, pois supostamente ela estaria passando em frente a cadeia no horário de visita e debochando de Débora.
De acordo com o documento, Débora foi quem praticou o ataque e lançou a soda cáustica em Isabelly.
Ela contou, no depoimento, que Marlon comprou o material antes de ser preso e fez pesquisas sobre o produto. A acusada também disse que ele mandou que ela estivesse disfarçada no momento do ataque.
“Ele queria jogar a soda nela para deixá-la feia”, contou Débora, no depoimento.
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Isabelly foi atingida no rosto e na região peitoral, e teve queimaduras de segundo grau na boca, cavidade orofaríngea, hipofaringe e tronco. Além disso, ela também teve lesões no lábio superior e inferior e cavidade oral.
No hospital, a jovem ainda teve um quadro infeccioso e foi submetida a intubação para ventilação mecânica e sedação. Foram cerca de 30 dias internada no Hospital Universitário de Londrina (HU), até receber alta.
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Diante disso e de outras provas e depoimentos, o juiz avaliou que há indícios suficientes que autorizam o encaminhamento do caso para julgamento em plenário.
“Considerando o caso em tela, entendo que tecnicamente, há prova da materialidade delitiva e indícios mínimos de autoria, conforme o relato da vítima, informantes e testemunhas e até mesmo pela confissão dos acusados”, avaliou o juiz.
‘Passo importante no reconhecimento da gravidade da violência contra a mulher’
Ilton Inácio, assistente de acusação no processo e advogado de Isabelly disse ao g1 que “a sentença representa um passo importante no reconhecimento da gravidade da violência contra a mulher no contexto das relações afetivas” e que a decisão foi recebida como “um ato de justiça e respeito à dor vivida por Isabelly e sua família”.
“A jovem foi vítima de um ataque cruel e premeditado, que poderia ter resultado em sua morte. O julgamento reafirma a necessidade de vigilância e rigor no enfrentamento da violência de gênero, especialmente quando há histórico de agressões e controle psicológico por parte do agressor”, afirma Inácio.
Relembre o caso
Jovem é atacada com ácido enquanto ia para a academia e fica em estado grave
Isabelly foi atacada na tarde de 22 de maio de 2024, enquando ia para a academia. Em um vídeo gravado por uma câmera de monitoramento, a vítima aparece correndo em busca de ajuda após ser atingida. Assista acima.
O ataque aconteceu na Alameda Padre Magno, na região central de Jacarezinho. A academia para onde a jovem ia fica na mesma rua. Um barbeiro viu Isabelly pedindo ajuda, a colocou no carro e a levou para o hospital.
Após o ataque, uma testemunha encontrou uma sacola preta e um copo, que estavam molhados. O material foi recolhido para análise.
Sacola e o local com a marca do produto jogado na jovem
Reprodução
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