Legado de ensino, tradição e acolhimento: Escola Lobo D’Almada completa 80 anos


Fundada em 1945, a Escola Estadual Lobo D’Almada completou 80 anos no último domingo (20) com comemorações ao longo da semana. A escola leva o nome de Manoel da Gama Lobo D’Almada, explorador português que trouxe a cultura pecuarista para Roraima. Primeira fachada da Escola Estadual Lobo D’Almada, quando ainda tinha o nome de “Grupo Escolar Lobo D’Almada”
JG Grana/g1 RR
São décadas de legado na educação que se misturam com a história de Boa Vista e também de Roraima. Momentos que costuraram gerações de estudantes da Escola Estadual Lobo D’Almada, que começou nessa terça-feira (23) a comemoração dos 80 anos. A “Lobo” celebra não apenas o aniversário, mas o brilho de cada aluno que por ali passou – de quem rabiscou carteiras com declarações de amizade aos professores, viram cada aluno crescer.
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Fundada no dia 19 de abril de 1945, a escola foi nomeada em homenagem a Manuel da Gama Lobo D’Almada, um estadista, explorador, cartógrafo e geógrafo português. D’Almada foi responsável por, em 1789, trazer a criação de gado bovino e equino para Roraima, segundo o doutor em história e professor da Universidade Estadual de Roraima (UERR), André Augusto da Fonseca.
Para celebrar os 80 anos, a instituição programou uma semana de comemoração, com homenagens e apresentações culturais que ocorrem até esta sexta-feira (25). O g1 visitou a instituição e conversou com funcionários, alunos e ex-alunos que falaram sobre a importância dela para a Educação.
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Escola Estadual Lobo D’almada comemora 80 anos de história
Embora o aniversário seja comemorado no dia 20, a Lobo D’Almada foi criada oficialmente em 19 de abril de 1945 como parte do Plano Geral de Organização do Ensino para o ano de 1946, de acordo com os documentos da secretaria de Educação de Roraima (Seed).
Foi o primeiro grupo escolar do então Território do Rio Branco, atual Roraima. As primeiras atividades pedagógicas ocorreram em uma residência na avenida Jaime Brasil, com apenas quatro professores atendendo 129 estudantes. Confira na linha do tempo abaixo:
Em 1977, a escola foi transferida para a avenida Benjamin Constant, também no Centro da cidade, passando a se chamar Escola de 1º Grau Lobo D’Almada, sob administração da Seed e mantida pelo governo do Estado de Roraima.
Na década de 1990, houve expansão das modalidades oferecidas, incluindo turmas de aceleração e séries iniciais e finais do ensino fundamental.
Em 1997, devido à demolição do antigo prédio para construção de uma nova estrutura, funcionários, alunos e professores dividiram temporariamente o espaço com a Escola Monteiro Lobato.
Com a conclusão do novo prédio em 1998, a escola foi renomeada como Escola Estadual de Ensino Fundamental Lobo D’Almada, e passou a funcionar em uma estrutura modelo de Escola Padrão. No mesmo ano, iniciou as atividades com a 8ª série e seguiu expandindo suas turmas.
De 2003 a 2006, ocorreram mudanças significativas no perfil da escola: o ensino médio foi implantado em 2003, mas retirado em 2004; nesse período, a escola também atendeu turmas da 3ª à 8ª séries, além de ofertar Educação de Jovens e Adultos (EJA) no turno noturno.
Em 2006, adotou o modelo de salas temáticas e reorganizou as séries por turnos, com uma decisão comunitária em plebiscito que redistribuiu as turmas entre manhã e tarde.
Atualmente a escola é chamada somente de “Escola Estadual Lobo D’Almada”, e desde 2014 não atende mais o ensino fundamental, passou a ser uma escola apenas dos 1°, 2° e 3° anos do ensino médio. Hoje conta com 890 alunos matriculados.
🔎 Mas quem foi Lobo D’Almada?
Mural com fotos da escola Lobo D’Almada ao redor doa anos em comemoração aos 80 anos
JG Grana/g1 RR
Esta pergunta provavelmente todo roraimense ou roraimado já fez. A pedido do g1, o pesquisador André Augusto explicou detalhes sobre o explorador português que dá nome à tradicional escola. Lobo D’Almada foi amplamente reconhecido como o principal governante da capitania de São José do Rio Negro, correspondente ao atual estado do Amazonas e Roraima, durante o período colonial.
Lobo D’Almada vivia em Mazagão, localizada no litoral africano próximo ao deserto de Namibe. Chegou ao Brasil em 1770, quando o Marquês de Pombal decidiu trazer toda a população do local para o Brasil, pois o custo da cidade em Portugal estava alto.
Chegando na Amazônia, Manuel da Gama foi escolhido como comandante da construção da grande fortaleza de São José de Macapá, devido ao destaque militar que tinha desde cedo.
“Em seguida, ele é enviado para participar da expedição de demarcação pós-tratado de Santo Ildefonso para delimitar as fronteiras entre os domínios espanhóis e portugueses aqui na Amazônia”, explicou o professor.
Quando ele retornou da expedição, em 1788, é oficialmente nomeado como o governador da capitania de São José do Rio Negro, território que hoje em dia se localiza os estados do Amazonas e de Roraima.
Em 1789, foi responsável por introduzir o gado bovino e equino nas margens do rio Uraricoera e do rio Itacutú, estabelecendo as primeiras fazendas na região que hoje corresponde ao estado de Roraima, especialmente no vale do rio Branco, área onde se localiza a atual cidade de Boa Vista.
“Ele identificou alguns pastos naturais com potencial para criar gado, porque a população do Rio Negro, a população portuguesa e mestiça do Rio Negro, não queria comer só proteína de peixe, eles queriam também carne vermelha por uma questão cultural. Então, é esse um dos destaque”, explicou André.
O trabalho de D’Almada foi essencial para integrar a área de colônia portuguesa. Morreu em 1799, mas deixou um legado “marcante”, especialmente em Boa Vista, onde é lembrado em homenagens públicas.
‘Cada aluno tem seu brilho’
Corpo docente da Escola Estadual Lobo D’Almada na comemoração de 80 anos da instituição
JG Grana/g1 RR
A atual gestora da escola é a professora Patrícia Monteiro Figueiredo, de 45 anos. Contente por estar a frente da instituição nesta data marcante, ela afirma que a Lobo representa tradição, afinal a escola começou quando Roraima ainda era território do Rio Branco.
“Cada aluno tem seu brilho, tem sua bagagem, ele quer ser enxergado. Eu lembro com carinho de todos meus alunos”, disse a professora Patrícia.
Para a gestora, o foco atual da escola é no talento e no “brilho” de cada aluno e, para isso, a escola oferece projetos pedagógicos para serem aplicados na feira de ciências regional.
Um destes projetos foi o do professor de geografia Alexandre da Silva Cosme, de 41 anos, e foi idealizado para a comemoração dos 80 anos da escola. Nele, os alunos fizeram uma pesquisa aprofundada tanto sobre Manuel da Gama, quanto da história da instituição.
“Um dos objetivos do projeto era fazer com que os alunos se sentissem pertencentes instituição enquanto conheciam as origens tanto da personalidade que deu nome da escola quanto do colégio em si”.
“É uma honra participar da equipe da Escola Lobo D’Almada, e esse projeto acaba sendo importante pois essa instituição não pode existir sem nossa clientela, nossos aluno” afirmou Alexandre.
A professora Silvana Araujo, de 51 anos e que trabalha na escola desde 2008. Atualmente ela atua como vice diretora e para ela o acolhimento é o que torna a escola tão especial.
“Todo início de ano letivo eu passo por todas as turmas e pergunto para cada aluno “qual o seu talento? qual é a sua arte? qual é a sua cultura?”, e isso ajuda a fazer eles se sentirem valorizados e como se estivessem em casa”, conta a vice gestora.
👨‍🎓 Presente, passado e futuro da Lobo se encontram
Aluna do 2° ano, Laura Maria Rodrigues, e vice-gestora, Silvana Araujo, segurando o banner do projeto feito para comemorar os 80 anos da escola
JG Grana/g1 RR
Uma das integrantes do projeto do professor Alexandre é a Laura Rodrigues Melo, de 17 anos. Aluna do 2° ano do ensino médio, ela descreve a experiência de descobrir a história da escola que estuda como ótima.
“Eu vi muitas fotos antigas da escola que dão aquele momento de nostalgia, que você vê aquelas pessoas que já estudaram aqui, aquelas que ainda estão estudando. No final ficou aquele sentimento bom de pertencimento” disse Laura.
Gestora Patrícia Moneteiro Figueiredo durante a comemoração de 80 anos da escola Estadual Lobo D’Almada
JG Grana/g1 RR
Já Thiago Silva de Oliveira, de 19 anos, é ex-alunos da escola. Ele chegou na escola com sonhos e diz que saiu dela tendo certeza de que eles são possíveis.
“É pela educação pública que a gente consegue transformar realidades e transformar histórias de famílias que talvez, sem ela, não teriam acesso a muitos patamares maiores na sociedade. Então, muito feliz pelo Lobo da Almada e que venha mais 80, mais 100 anos e que essa trajetória seja muito maior”, contou Thiago.
🎖️ Momento marcante
Placa do “Prêmio Gestão Escolar 2012” concedido a Escola Estadual Lobo D’Almada pela CONSED por estar entre as seis melhores escolas do Brasil
JG Grana/g1 RR
Para a professora Silvana, o momento que mais a marcou nos últimos 14 anos em que trabalha na escola foi em 2012, quando a Lobo D’Almada ficou entre as seis melhores escolas do Brasil. A indicação e premiação foi feita pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e até hoje a placa está exposta, mostrando o orgulho que a gestão da escola tem de seu longo trabalho.
“Para mim, foi um momento histórico ver nosso trabalho sendo reconhecido pelo Brasil inteiro. Todos os gestores que chegam sempre abraçam a escola e dão continuidade a essa qualidade que a gente busca manter no ensino”, disse Silvana.
A história da Escola Lobo D’Almada é guardada não só através das premiações e trabalhos dos alunos, mas também através do muro que contém uma imagem em madeira representando uma das viagens do patrono da escola e essa arte é pertencente ao período que a escola foi fundada.
Nos 80 anos da instituição é perceptível como tanto os alunos quanto professores e funcionários carregam um grande orgulho de serem parte do Lobo D’Almada.
Mural de madeira que registra a estadia de Manuel Gama Lobo D’Almada em Roraima
JG Grana/g1 RR
*Estagiário sob supervisão de Caíque Rodrigues, do g1 RR
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