De onde vem cocaína encontrada na Lagoa da Conceição, em Florianópolis


Pesquisadora explica esgoto não tratado, descarte ilegal direto na água ou até de embarcações são possibilidades. Concentração está entre as mais altas reportadas no mundo. Lagoa da Conceição, em Florianópolis, está contaminada com cocaína: dados ‘surpreendentes, mas esperados’
Divulgação/PMF
Esgoto não tratado, o descarte ilegal direto na água ou até mesmo de embarcações estão entre as possibilidades de origem da cocaína encontrada na Lagoa da Conceição, um dos pontos turísticos de Florianópolis. A concentração da substância ilícita está entre as mais altas reportadas no mundo, segundo pesquisa desenvolvida e divulgada pela Universidade Federal Santa Catarina (UFSC).
A Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Capital afirmou que os “resultados refletem os impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente” e que adotará providências e diálogo com órgãos responsáveis pelo saneamento e pela preservação do local (leia íntegra da nota mais abaixo).
✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp
Pesquisadores da UFSC identificam até cocaína em água da Lagoa da Conceição
Professora do departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFSC, Silvani Verruck explica que os índices de cocaína e da benzoilecgonina (principal metabólito da droga) na lagoa são “surpreendentes, mas esperados”, já que as substâncias são liberadas pelos humanos na urina e fezes e foram encontradas em outras pesquisas, como a que achou os ilícitos em tubarões da Bacia de Santos. A pesquisa de Santa Catarina usou metodologia semelhante.
Os pesquisadores ainda não divulgaram os números e outros dados quantitativos sobre a droga e os seus derivados, pois organizam outro artigo para publicação com os dados. A expectativa é de que o estudo seja publicado ainda neste ano.
⚠️ A Lagoa da Conceição é uma laguna, localizada na região Leste da cidade, e é um dos principais pontos turísticos da capital. O local foi palco de um desastre ambiental em 2021, quando uma lagoa artificial de infiltração rompeu.
O estudo mencionou ainda ter encontrado cafeína em maior concentração, seguida pela ciprofloxacina, antibiótico utilizado em infecções causadas por bactérias. A clindamicina, outro antibiótico, e o diclofenaco também foram detectados.
Ao todo, foram 35 “contaminantes emergentes”, nome dado às substâncias de uso diário, como cosméticos e produtos de higiene pessoal que são despejados na água.
Para a professora, o encontro dessas substâncias preocupa. “Nós temos algumas substâncias, os antibióticos, que acabam sendo bastante resistentes. É algo que nos chama a atenção porque muito provavelmente, em algumas concentrações, eles vão sim afetar a flora local, e fauna local, os peixes, siris”, explicou.
Riscos
Em relação ao consumo, o estudo não mostrou risco do pescado da região. “Então, quanto a isso, o monitoramento contínuo seria o mais importante para seguir avaliando a segurança. Por ora, quanto aos contaminantes avaliados, o consumo humano é seguro”.
Ambientalista em Florianópolis, o também professor da UFSC Paulo Horta explica que, na prática, a pesquisa é um indicativo de que o “sistema de saneamento é ineficiente. Além destes contaminantes, temos metais pesados e outro xenobióticos, que fazem mal para a saúde da fauna e flora, e claro faz muito mal para a saúde de banhistas entre outros usuários”.
A reportagem do g1 procurou a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), responsável pelo tratamento de água na região. Em nota, a empresa disse que os resultados apresentados pela UFSC não têm relação com o efluente tratado pela Casan e que monitora a água desde que ouve o rompimento da lagoa artificial, há quatro anos (confira nota abaixo).
Pesquisa
O estudo faz parte do Programa de Recuperação Ambiental proposto pela Casan como forma de compensar as consequências do desastre ambiental provocado após o rompimento da lagoa artificial de infiltração que recebe efluente tratado da Estação de Tratamento de Esgotos da região. Veja outras informações da pesquisa abaixo:
➡️ Início em a partir do início de 2021.
🗺️ Colaboração do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA);
📚 Publicada em 1º de fevereiro de 2025 na revista Science of the Total Environment;
💰 Financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa, Tecnologia e Inovação de SC (Fapesc);
👩‍🔬 🧑‍🔬 Integrantes: Alice Cristina da Silva; Luan Valdemiro Alves de Oliveira; Luan Amaral Alexandre, Mateus Rocha Ribas, Juliana Lemos Dal Pizzol, Gustavo Rocha, Jussara Kasuko Palmeiro, Maurício Perin, Maurício Perin, Rodrigo Hof, Silvani Verruck
As amostras foram coletadas em pontos estratégicos da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, considerando áreas próximas à estação de tratamento de esgoto, às áreas urbanizadas e às regiões de maior biodiversidade.
O que diz a prefeitura de Florianópolis
A Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável informa que tomou conhecimento do estudo realizado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sobre a presença de contaminantes emergentes na Lagoa da Conceição e irá analisar os dados apresentados. A partir dessa avaliação, serão adotadas as providências cabíveis dentro da competência da Secretaria, em diálogo com os órgãos responsáveis pelo saneamento e pela preservação ambiental.
Os resultados refletem os impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente. Reafirmamos nosso compromisso com a qualidade da água e a proteção do ecossistema local, além da importância do monitoramento contínuo e da busca por soluções para minimizar esses efeitos e promover um desenvolvimento mais sustentável.
O que diz a Casan
A CASAN informa que o efluente tratado na Estação de Tratamento de Esgoto da Lagoa da Conceição é destinado à Lagoa de Evapoinfiltração (LEI), não sendo lançado na Lagoa da Conceição. Os resultados apresentados pela UFSC não têm relação com o efluente tratado pela CASAN.
A Companhia destaca ainda, que neste ano divulgou o resultado do monitoramento feito ao longo de quatro anos. O acompanhamento foi iniciado após o acidente na encosta de dunas da LEI em janeiro de 2021, quando foram registrados 422,3 milímetros de chuva, enquanto o esperado era de 138,6 milímetros. Foram analisadas características físicas, químicas e microbiológicas de amostras de água salobra, de sedimento, da biota aquática (plâncton e bentos), além de toxicidade da água e sedimentos da Lagoa da Conceição.
Os resultados indicam que a qualidade da água varia entre as diferentes regiões da lagoa, e o acidente não deve ser considerado responsável por essas alterações, uma vez que a água da lagoa já se renovou pelo menos quatro vezes nesse período. As condições observadas são influenciadas, principalmente, por fatores como o crescimento populacional e o descarte inadequado de esgoto.
✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp
VÍDEOS: mais assistidos do g1 SC nos últimos 7 dias
Adicionar aos favoritos o Link permanente.