Advogada reverte suspensão de registro após ser removida de grupo de WhatsApp pela filha do presidente da OAB em Roraima


Advogada Ariádne Miranda, de 33 anos, acusa Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil em Roraima (OAB-RR) de atuar para favorecer filha do presidente Ednaldo Vidal. Juiz considerou que procedimento contra Ariádne não obedeceu ritos legais e cobrou explicações. Ariádne Miranda, de 33 anos, conseguiu na Justiça o direito de seguir advogando em Roraima
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A advogada Ariádne Miranda, de 33 anos, reverteu na Justiça Federal uma decisão da Ordem dos Advogados do Brasil em Roraima (OAB-RR) que a impedia de exercer a profissão. Ariádne afirma que tem sofrido perseguição por parte de Eduarda Vidal, filha do presidente da OAB-RR, Ednaldo Vidal.
Eduarda, que não é advogada, removeu Ariádne de um grupo de WhatsApp em novembro do ano passado, e a partir daí começou o que ela classifica como um “grande desrespeito”.
Em entrevista ao g1, Ariádne contou que o grupo era um da Associação dos Advogados Criminalistas de Roraima (Abracrim-RR), do qual fazia parte desde 2020. Quando foi removida, a advogada recorreu à Justiça, conseguiu decisão para voltar ao grupo e publicou nas redes sociais um vídeo onde relatou o descontentamento com a atitude de Eduarda.
Depois do vídeo, a filha do presidente acusou Ariádne de se autopromover nas redes sociais com o intuito de atrair retaliações à ela, e denunciou a profissional no Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da OAB-RR. Com isso, Ariádne teve o registro de advogada suspenso preliminarmente por decisão do relator, Ricardo Herculano Bulhões.
Ariádne recorreu à Justiça e o juiz titular da 2ª Vara Federal, Diego Carmo, determinou que a OAB-RR suspendesse a tramitação do procedimento porque a advogada não teve direito à ampla defesa.
“A filha do presidente, mesmo sem ser advogada, entrou com uma representação contra mim na OAB. Como resultado, foi emitida uma decisão suspendendo minha carteira profissional, impedindo-me de advogar até que me retratasse publicamente e pedisse desculpas à família dela”, contou Ariádne.
Eduarda Vidal é filha do presidente da OAB, Ednaldo Vidal, e foi quem denunciou Ariádne à seccional de Roraima
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Ariádne disse que quando soube que havia um procedimento contra ela no Tribunal de Ética da OAB-RR ainda tentou conversar com os membros, mas não foi ouvida. Afirmou ainda que também levou a situação à OAB Nacional, mas não foi respondida. Ela também tentou apoio na Comissão da Mulher Advogada de Roraima, mas não foi recebida.
Na decisão judicial que garantiu o registro profissional a Ariádne, o juiz também pediu cópia do procedimento disciplinar instaurado na OAB-RR e pediu manifestação do Ministério Público Federal.
Exclusão do grupo de WhatsApp
Eduarda Vidal removeu Ariádne Miranda de grupo em que participava e conseguiu na Justiça o direito de voltar
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Ariádne, que atua como advogada criminalista, foi removida do grupo no WhatsApp no dia 28 de novembro do ano passado. Segundo ela, cerca de 700 advogados são membros. A exclusão ocorreu depois que uma pessoa pediu o contato de algum advogado criminal. Nisso, uma mulher compartilhou o contato de Ariádne, mas Eduarda apagou a mensagem, mandou contato do próprio pai, e fez a remoção.
“Considerei isso um grande desrespeito, tanto como advogada quanto como associada da Abracrim. Por isso, ingressei com uma ação no Juizado Especial Cível para que ela fosse obrigada a me reinserir no grupo”, disse Ariádne.
Em dezembro do ano passado, o juiz Air Manrin Júnior, do 2º juizado Especial Cível, concedeu a liminar garantindo que Ariádne fosse adicionada novamente no grupo.
“É lamentável isso, principalmente, porque tentei de várias maneiras buscar um acordo extrajudicial para ser reinserida”, disse Ariádne, no vídeo que publicou nas redes sociais e que deu origem ao processo contra ela na OA-RR.
Abuso de poder
Para Ariádne, do Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da OAB-RR sem que ela fosse ouvida demonstrou abuso de poder e teve o intuito de tender aos interesses da filha de Ednaldo Vidal como forma de “retaliação e vingança privada” porque Eduarda tem “passe livre” na instituição.
“Estou extremamente decepcionada com a OAB, que deveria proteger os advogados, mas, ao mesmo tempo, mantenho esperança na Justiça. Acredito que a OAB precisa se manifestar sobre todas essas irregularidades e tomar providências”, disse ao g1.
Procurado, o presidente da OAB-RR afirmou que desconhece a perseguição relatada por Ariádne. Disse ainda que não existe “nada contra” a advogada na seccional
“Desconhecemos esse fato de perseguição, aqui nós acolhemos. Sobre a suposta exclusão de grupo, não possui qualquer relação com a seccional. Ao que fui informado, diz respeito ao grupo de acadêmicos da advocacia criminal, sem qualquer ou nenhuma relação com a seccional. Na Presidência da Seccional ou Diretoria NÃO EXISTE NADA CONTRA advogada [sic]”, disse.
A filha dele, Eduarda Vidal, também foi procurada, mas não respondeu à reportagem.
O g1 também questionou a OAB-RR, OAB Nacional e Comissão de Mulheres advogadas, mas as instituições não se pronunciaram.
Ednaldo está no terceiro mandato como presidente em Roraima. Ele é investigado na Paraíba por suspeita de falsidade ideológica e peculato. Ele atuou como “servidor fantasma” no governo da Paraíba por mais de vinte anos, segundo a Polícia Civil do estado. À época, ele disse que as denúncias são de “cunho estritamente política partidária”.
“Nunca me deram uma justificativa clara [para a perseguição]. O que percebo é que essa estudante, que não é advogada, tem algo pessoal contra mim e passou a me perseguir. Ela também removeu do grupo outras pessoas que são minhas amigas, alegando que quem se aproximasse de mim enfrentaria retaliação dentro da OAB”, disse a advogada.
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