Esposa de PM réu por invadir fazenda e usar policiais para ameaçar ex também é indiciada


Maria Giselle Nogueira de Lima, de 36 anos, esposa do tenente da Polícia Militar Cleonio Santos da Silva, foi indiciada por furto qualificado, fraude processual e por invasão à propriedade alheia. Caso tramita na 1ª Vara do Tribunal do Júri e da Justiça Militar. Tenente Cleonio Santos da Silva foi preso suspeito de invadir propriedade na zona Rural de Boa Vista
Reprodução
Maria Giselle Nogueira de Lima, de 36 anos, esposa do tenente da Polícia Militar Cleonio Santos da Silva, que é réu por invadir uma fazenda e intimidar o empresário Ruidglan Costa Meneses, foi indiciada pela Polícia Civil por participação no crime. Ela é ex-mulher de Ruidglan. A invasão aconteceu com apoio de outros policiais e o aparato da PM.
O g1 teve acesso nesta terça-feira (11) ao documento assinado pelo delegado Jonathan Henrique Sedlacek Freese, do 4º Distrito Policial, em Boa Vista. Maria Giselle foi indiciada pelos crimes de furto qualificado, fraude processual e esbulho possessório (quando alguém invade ou ocupa uma propriedade alheia, utilizando violência ou grave ameaça) contra o ex-marido Ruidglan. No dia da invasão ela estava acompanhada do atual marido, o tenente Cleônio.
🔎 O que é indiciar? É um procedimento que ocorre quando a polícia, com base na investigação, conclui que há indícios de crime e associa a uma pessoa. Depois disso, o caso vai ao Ministério Público, que envia à Justiça.
O processo tramita na 1ª Vara do Tribunal do Júri e da Justiça Militar. A reportagem procurou a defesa de Maria Giselle e aguarda resposta. Também questionou ao Tribunal de Justiça de Roraima sobre o andamento, mas não obteve resposta.
O tenente Cleonio chegou a ser preso, mas ganhou liberdade em dezembro de 2024, oito meses depois. Ao conceder liberdade, a Justiça determinou medidas cautelares como proibição de manter contato com a vítima e testemunhas e se recolher em casa à noite.
Indiciamento de Maria
O crime ocorreu no dia 7 de março. De acordo com as investigações do 4º DP, o tenente Cleonio estava de serviço e usou duas viaturas da PM, além do apoio de quatro policiais, para intimidar o empresário, que estava na fazenda – a propriedade fica localizada na zona Rural de Boa Vista. O casal alegava que fazenda era de Maria.
De acordo com o relatório da Polícia Civil, a participação de Maria Giselle no crime investigado é “central”. Ela foi indiciada por furto qualificado por ser apontada como a pessoa que ficou com 10 cartões de memória das câmeras de segurança da fazenda. No depoimento, ela negou ter tirados os cartões de memória, mas admitiu ter desligado o sistema de câmeras.
Já no crime de fraude processual, ela foi apontada como quem participou da alteração das evidencias do crime na fazenda para induzir as autoridades ao erro.
“Quanto à autoria, há indícios suficientes de que a investigada Maria Giselle Nogueira de Lima participou ativamente da conduta delitiva, já que, segundo a vítima, ela estava presente durante o desligamento dos sistemas e remoção dos cartões de memória, e que tal ação ocorreu em benefício próprio para impedir o registro das atividades realizadas no local”, cita trecho do relatório da Polícia Civil.
O tenente e outros três PMs envolvidos são réus desde o dia 24 de maio pelos crimes de prevaricação, constrangimento ilegal, dano qualificado, roubo qualificado, ameaça, invasão de domicílio e inovação do estado de lugar (quando um local é alterado de maneira fraudulenta para evitar uma responsabilidade criminal).
Invasão na propriedade
Tenente da PM invade fazenda e usa policiais de serviço para ameaçar ex da atual esposa
O tenente da PM Cleonio Santos da Silva, acompanhando de outros militares, foi até a fazenda do ex-marido da esposa dele e coagiram e humilharam a vítima, além disso, levaram alguns objetos, alegando que a fazenda era propriedade da companheira de Cleonio. Não havia qualquer mandado judicial que justificasse a ação.
A ação dos policiais foi filmada por câmeras de segurança da fazenda, mas os eles pegaram as imagens e os cartões de memória. A vítima, no entanto, filmou parte da ação, incluindo a presença de Cleonio no local.
Ao mandar prender o tenente, a juíza entendeu que o tenente utilizou todo o aparato da Polícia Militar “a fim de garantir a subtração” dos documentos. Ele era lotado no 2° Batalhão da PM.
Sobre a ação dos oficial, a PM disse, à época, que em razão da investigação, Cleonio se apresentou espontaneamente à Corregedoria. A corporação ressaltou que o militar encontra-se “na condição de acusado, garantido a ele o direito do contraditório e à ampla defesa como princípios fundamentais”.
Um dos policias que estavam na ação com tenente era o sargento Arnaldo Cinsinho Silva Melville, preso por matar pessoas e simular confrontos policiais para justificar crimes em Boa Vista.
Versão da vítima
Um vídeo gravado durante a ação mostra o momento em que o tenente invade a fazenda. As imagens obtidas pelo g1 mostram o momento em que Cleonio, acompanhado da esposa e de policiais entram na fazenda sem mandado judicial, olham documentos da propriedade e conduzem o empresário para uma delegacia (Veja no vídeo acima).
O g1 conversou o empresário Ruidglan Costa Meneses, de 50 anos, que teve a casa invadida pelos PMs. De acordo com ele, Cleonio é atual marido da sua ex-mulher, com quem foi casado por dois anos e se divorciou há oito meses. O motivo da invasão foi para “tomar posse” do terreno que, de acordo com a ex-mulher, pertence a ela. Ele e o caseiro filmaram os momentos.
“Meu caseiro me ligou em março avisou que ela estava no meu sítio dizendo que era dela por direito. Ela estava com os policiais dizendo que tava tomando posse do meu sítio. Eu disse: ‘Pelo que eu sei, você não tem nada aí, porque casei contigo com separação total de bens’. Fui para lá correndo e filmei tudo junto com os caseiros”, disse Ruidglan.
Tenente Cleonio Santos fardado dentro da fazenda do ex da atual esposa
Arquivo Pessoal
Em certo momento do vídeo, o sargento Arnaldo Cinsinho Silva Melville, sentado em uma mesa junto com Ruidglan, analisa os documentos da propriedade. Ele chega a mandar o empresário fazer silêncio. Cleonio aparece andando em volta da mesa. O tenente se refere à esposa como “senhora” e chega a gritar pedindo respeito à Ruidglan por “estar de serviço”.
A juíza destacou no pedido de prisão que a “garantia da ordem pública encontra-se abalada” pelas ações de Cleonio, evidenciado pelo fato dele estar “envolvido em outros ilícitos com uso de agressividade e truculência”, citando como exemplo uma medida protetiva de urgência contra uma ex-esposa do tenente.
O documento cita que as condutas de Cleonio “possuem gravidade e geram riscos, inclusive, de vida à própria vítima”. Por isso, decretou a prisão preventiva.
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