Água mineral, carvalho em pedaços e tanque de concreto: os detalhes que fazem surgir vinhos únicos em São Paulo


Água pura irriga videiras no calor de Rio Preto. Em São Miguel Arcanjo e Porto Feliz, as curiosidades se referem ao uso da madeira no envelhecimento da bebida. O segredo para a produção de vinhos únicos no interior do estado de São Paulo está nos detalhes. Em São José do Rio Preto, maior cidade da região noroeste e onde o termômetro passa dos 40 graus em algumas épocas do ano, a ideia de que a uva gosta e se adapta melhor ao clima frio é desmistificada com a ajuda de um item nobre: a água mineral que vem das minas na fazenda e irriga as videiras.
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“Isso é uma sorte nossa e das uvas. É uma água mineral, de grande qualidade, e sem dúvida nenhuma isso tem influência na qualidade da uva e, por consequência, na qualidade do vinho”, celebra o empresário Paulo Girardi que, há quinze anos, decidiu fazer o próprio vinho juntamente com a mulher, Aline.
Água mineral irriga as videiras em fazenda de Rio Preto
Reprodução/TV TEM
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A produção é bem pequena, não ocupa nem um hectar, a seis quilômetros do centro da cidade. As mudas vieram da França exclusivamente para a Fazenda Amazonas. São duas variedades: 1,3 mil pés de uva syrah e 900 da cabernet sauvignon.
Videiras da Fazenda Amazonas, em São José do Rio Preto
Reprodução/TV TEM
“Nunca tinha se plantado uva de vinho na região noroeste do Estado de São Paulo. Nós fomos os primeiros. Os dois tipos prosperaram, fizemos um vinho razoável no início, aí falamos: vamos cuidar um pouco melhor disso'”, relembra Paulo.
Segundo Aline, o início foi muito desafiador. “A gente não fazia ideia do que ia enfrentar, do que poderia vir, porque realmente é desconhecido, mas na hora a gente foi aprendendo um pouquinho”, conta.
Paulo e Aline Girardi produzem vinho em Rio Preto
Reprodução/TV TEM
O vinho produzido pelo casal é uma exclusividade para poucos. As garrafas são todas numeradas e, da melhor safra até agora, foram pouco mais de oitocentas produzidas. Por isso, o vinho ainda não é vendido. “Se a gente conseguir chegar até o nível de qualidade que nós queremos, aí sim nós podemos lá na frente, talvez, comercializar”, justifica Paulo.
O nome escolhido para o vinho, Spirituallis, tem um significado muito importante para o casal. “Spirituallis, em latim, quer dizer ‘uma inspiração divina’. Com essa inspiração, nós pretendemos contar a história do vinho aqui, com essa pegada da transformação da água em vinho por Jesus Cristo”, finaliza ele.
Vinho Spirituallis: produção restrita e que não se encontra à venda
Reprodução/TV TEM
🌲✅ Carvalho ‘ON’
É de olho na qualidade do vinho paulista e na mudança de paladar do consumidor que uma vinícola de São Miguel Arcanjo, próximo a Itapetininga, está construindo uma nova história. Naquela região, onde o processo de fabricação do vinho ainda é muito artesanal, as produtoras da bebida estão buscando novas alternativas para oferecer produtos diferenciados.
A vinícola tem quatro variedades de uva plantadas em seis hectares de terra e testa uma técnica inédita entre as pequenas produtoras.
Vinícola em São Miguel Arcanjo testa técnica inédita entre as pequenas produtoras de vinho
Reprodução/TV TEM
Normalmente, o processo natural de envelhecimento de um vinho é colocar a bebida dentro de barricas de carvalho francês ou americano, que são muito caras. Como o dono ainda não tem as barricas, ele decidiu colocar pedaços de carvalho francês e americano dentro dos tanques. As análises mostraram que o vinho já ficou diferente.
Rafael de Nardi, dono de vinícola em São Miguel Arcanjo
Reprodução/TV TEM
“Esse vinho agregou, ficou um pouco mais carregado, com paladares únicos. É um vinho para o qual estamos criando um rótulo especial, vai ser uma reserva especial, até com valores um pouco diferentes dos vinhos tradicionais que a gente vende aqui. Estamos com uma expectativa muito grande”, adianta o dono da vinícola, Rafael de Nardi.
🌲⛔ Carvalho ‘OFF’
Em uma vinícola de Porto Feliz, na região de Sorocaba, o vinho não passa pelas barricas de carvalho para envelhecimento. Mas não é por falta de investimento, e sim por uma opção da vinícola para valorizar todas as características da uva.
“Quando a gente passa o vinho pela barrica, muitas vezes esse aroma e sabor da barrica está vindo muito carregado, e é onde acaba ‘apagando’ o sabor e os aromas de frutas vermelhas e expressando mais o aroma da madeira. Com isso a gente não vê muito a expressão dessas uvas e da terra em si do local, que é o interessante”, afirma a enóloga Mariana Carosia.
Mariana Carosia, enóloga
Reprodução/TV TEM
Com esse espírito, o empresário Marcelo Galli investiu em tanques de concreto revestidos de cerâmica, o que ajuda inclusive a regular a temperatura da bebida nos momentos mais quentes do dia.
“O tanque de concreto tem o bônus de criar uma micro oxigenação que favorece muito o vinho. Ele tem bolsas de ar em volta dele, tem a cerâmica e depois o concreto. Por enquanto, foi uma experiência muito interessante”, diz.
Vinícola em Porto Feliz usa tanques de concreto para preservar aroma da uva
Reprodução/TV TEM
A vinícola é uma das mais jovens do estado e teve sua primeira safra em 2021. Por ali, a aposta é na uva syrah: são cinco mil pés em três hectares de terra onde antes havia pasto para gado e plantações de café. A família não tem tradição no cultivo da uva e nem na fabricação de vinho e a ideia de transformar o sítio em vinícola foi da mãe de Marcelo, Terezinha.
Terezinha e Marcelo Galli transformaram plantação de café em videira em Porto Feliz
Reprodução/TV TEM
“Foi uma ‘loucura’ completa, a gente tratou dessa forma, e não só eu, como outros entes da família, e ela estava com a razão. Como eu disse, a mãe sempre tem razão. Através das pesquisas e consultas ela descobriu que se podia fazer vinhas de uva fina aqui no sudeste” , pondera Galli.
🎥🍷 Vinhos SP
Reportagem e apresentação: Thiago Ariosi
Produção: Carla de Campos
Imagens: Fernando Bellon e Witter Veloso
Edição de mídia audiovisual e finalização: Sergio Camargo
Edição de texto: Mateus Soares
Edição de texto web: Eric Mantuan
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