Homem torturado e jogado de ponte por PMs no RS teve nome consultado por policial dois dias antes de abordagem, diz inquérito


Defesa do soldado que realizou a busca de informações afirmou que considera a ‘consulta normal’. Corpo de Vladimir Abreu de Oliveira, de 41 anos, teria sido jogado de ponte e foi encontrado na Zona Sul da capital. PM procurou informações de vítima no sistema antes de abordagem
Um dos PMs indiciados por envolvimento na morte de um morador do Condomínio Princesa Isabel, em Porto Alegre, pesquisou o nome de Vladimir Abreu de Oliveira no sistema de consultas integradas da Segurança Pública dois dias antes da abordagem. O homem teria sido torturado e jogado do vão móvel da Ponte do Guaíba.
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O apontamento consta na página 85 do Inquérito Policial Militar (IPM) que apura as responsabilidades sobre o caso.
“(…) Sendo verificado que o investigado SD Lucas da Silva Peixoto, que estava na viatura 13066, havia consultado a vítima ainda no dia 15/05/2024 às 23:07, ou seja, 2 dias antes do seu desaparecimento”, diz trecho do documento.
O advogado Mauricio Custódio, que representa o soldado Lucas da Silva Peixoto, afirmou, nesta sexta-feira (12), que considera a “consulta normal”. Veja abaixo o que diz a defesa.
PMs torturaram morador e jogaram corpo de ponte, diz IPM
‘Ele pagou com a vida por não saber’, diz irmã de morador
Inquérito trata de consulta de nome de vítima dois dias antes de abordagem em Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
O inquérito analisou toda a ação dos policiais militares no dia 17 de maio, data em que Vladimir desapareceu. Naquele dia, duas viaturas da Força Tática do 9º Batalhão de Polícia Militar (9º BPM) estiveram no condomínio.
Um dos soldados ouvidos relatou que foi combinado “entre as duas equipes que estavam de serviço de fazer uma incursão no Condomínio Princesa Isabel, devido a um vídeo que circulava mostrando traficantes ameaçando moradores”. Essa seria a explicação para o início da ação.
Outro soldado, que estava na guarnição que levou Vladimir, afirmou que “avistaram um indivíduo saindo pelo portão e o abordaram e revistaram”. Após isso, o sargento que chefiava a equipe deu a ordem para algemá-lo e colocá-lo dentro da viatura.
O mesmo soldado ainda confirma que “nada de ilícito foi encontrado” com Vladimir. E que a voz de prisão foi dada pelo sargento e que “o indivíduo foi abordado devido à ‘minioperação’ que estavam realizando ao visualizá-lo saindo do condomínio”.
A investigação da BM contou com o depoimento de dez pessoas, entre moradores, vizinhos e policiais da Força Tática do 9º Batalhão de Polícia Militar. Cinco PMS foram indiciados pela BM por envolvimento na morte de Vladimir. Dois deles, o sargento e um soldado, que seriam os responsáveis pelas agressões, estão presos preventivamente.
Segundo familiares, Vladimir era dependente químico, mas não tinha envolvimento com o crime.
“Não tinha envolvimento nenhum. Nem saía, a vida era dentro do condomínio. Ele morreu por não saber nada. Os policiais queriam informações do crime e ele não sabia. Então, ele pagou com a vida”, desabafou Patrícia de Oliveira.
Trecho de inquérito policial militar sobre Caso Vladimir
Reprodução/RBS TV
Repercussões do caso
Após a revelação dos detalhes da investigação sobre tortura e morte pelo Jornal do Almoço, da RBS TV, o caso, até então tratado com sigilo, ganhou repercussão.
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do RS acompanha o desenrolar da investigação sobre homicídio, conduzida pela Polícia Civil. O governador Eduardo Leite (PSDB) disse em um evento que o ocorrido “não pode ser tolerado pela Brigada Militar”.
“O que ocorreu ali, de acordo com a apuração do inquérito policial militar, é uma atitude mais do que reprovável. O estado não tolera a prática de crimes por seus membros e haverá consequência para aqueles que tenham essa prática”, disse Leite.
Foto de Vladimir Abreu de Oliveira, que morreu após abordagem da BM, estampa camiseta usada por familiar
Reprodução/RBS TV
O que diz a defesa
O advogado que representa Lucas da Silva Peixoto e outro policial envolvido na abordagem diz acreditar que “houve incriminação” de seus clientes.
“Aguardamos as investigações da Polícia Civil, que está examinando cada detalhe. Diversamente, a Brigada optou por seguir uma visão única, sem explorar melhor os fatos nem sequer se questionar eventuais motivações pessoais, sobre a morte de Vladimir”, diz Mauricio Custódio.
VÍDEO: Tudo sobre o RS
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