Pesquisa da UFRN investiga se substância psicodélica extraída de sapos pode ser usada como ansiolítico


Estudo, que foi publicado no periódico Molecular Psychiatry, realizou primeiros testes em ratos, investigando expressão de oito genes sob efeito da substância 5-MeO-DMT. Sapo da espécie Bufo
Joachim Müller/Flickr/Divulgação UFRN
Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) começou a investigar se uma substância psicodélica retirada de sapos da espécie Bufo pode ter uma atuação como efeito ansiolítico (contra ansiedade e tensões).
A pesquisa tem sido feita conduzida pelo Laboratório de Neurodinâmica do Instituto do Cérebro (Ice/UFRN) e foi publicada no periódico Molecular Psychiatry. Neste primeiro momento, foram utilizados ratos no experimento – não houve testes em humanos.
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A substância em questão é a 5-MeO-DMT. Segundo a pesquisa, o uso da substância mostrou a possibilidade de gerar um efeito ansiolítico de até cinco dias após a aplicação nos ratos.
Os pesquisadores motivaram um estresse agudo nos animais e, logo depois, filmaram os animais no campo aberto e labirinto em cruz elevada para checar como o psicodélico atuaria como ansiolítico e ansiogênico nos organismos.
A pesquisa verificou ainda mecanismos moleculares envolvendo a substância, como a investigação da expressão de oito genes do organismo dos ratos, observando como se adaptariam à substância. As áreas do cérebro do camundongo também foram analisadas.
A pesquisa é da doutoranda em Neurociência de Sistemas Margareth Nogueira e orientada pelos pesquisadores Richardson Leão e Katarina Leão, do Instituto do Cérebro.
Próxima etapas do estudo
O artigo publicado pelos pesquisadores da UFRN refutou um aumento da plasticidade no cérebro e apontou um a capacidade de mudança de expressão dos genes conforme alterações do ambiente.
Essa característica de adaptação, induzida pelo psicodélico, levou a uma análise sobre o mecanismo de ação da substância, que precisa de mais estudos sobre outras doenças, segundo os pesquisadores.
“Estamos mostrando efeitos bem específicos no hipocampo [área do cérebro] e demonstrando que não há um aumento geral de genes relacionados à plasticidade com o uso de 5-MeO-DMT. Portanto, é difícil especular sobre outras condições neurológicas”, explicou a pesquisadora Katarina Leão.
Margareth, Katarina e Richardson Leão: pesquisadores envolvidos na publicação
Divulgação/UFRN
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A pesquisadora explica que é preciso realizar mais testes para que se possa fazer tratamentos em humanos com o 5-MeO-DMT. No momento em que for seguro, explicou, será feito o ensaio clínico por meio de grupos de controle, o chamado duplo-cego.
Nesta fase, um grupo de voluntários recebe a substância com efeitos potencialmente ativos e um placebo, que é inerte.
“Um fato interessante sobre o 5-MeO-DMT é que seu efeito agudo (alucinógeno) é bem mais curto do que o de outros psicodélicos”, explicou Katarina Leão.
Uso de psicodélicos em tratamentos
O pesquisador Richardson Leão explica que as pessoas põem uma crença em psicodélicos, no geral, como antidepressivos. Segundo o pesquisador, a ação de algumas substâncias psicodélicas opera com poucos receptores no cérebro.
“É possível que a substância faça muitas funções mais importantes que interagir com receptores de serotonina”, disse.
Mesmo com esses limites, ao tratar a ansiedade em humanos por meio do uso do psicodélico, existem outras investigações científicas necessárias, segundo a pesquisadora Karina Leão.
“Há uma discussão atual sobre se os psicodélicos precisam causar o efeito agudo, com possíveis alucinações e experiência psicológica, ou se é possível administrar uma droga modificada, não alucinógena, e obter os mesmos efeitos [desejados de ansiolítico]”, explicou.
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