Mulher aponta inconsistências em ação da PM e diz que marido está há 5 meses preso injustamente em Boa Vista


Mecânico, de 32 anos, está preso desde fevereiro deste ano, pelo crime de tráfico de drogas. Família afirma que ele não tem envolvimento com o crime e pede liberdade à Justiça. Mulher denuncia que marido foi preso injustamente em Roraima.
Arquivo pessoal
A esposa de um homem denuncia que houve inconsistências em uma ação da Polícia Militar e que o marido dela, um mecânico, de 32 anos, está preso injustamente por tráfico de drogas há cinco meses, em Boa Vista. A prisão aconteceu no dia 20 de fevereiro, no bairro Pricumã.
Segundo a mulher, que não quis se identificar na reportagem, o marido havia ido até uma vila residencial para acompanhar um amigo, de 27 anos, na compra de um som automotivo, quando foi abordado e preso pela Polícia Militar. Ela pediu para o nome dele não ser divulgado.
“Eu quero que o meu esposo seja solto, seja absorvido dessa culpa. Ele é inocente, está com o psicológico abalado. Ele tem dois filhos pequenos e que dependem dele, a gente depende dele”, pediu a técnica de enfermagem, de 31 anos.
➡️ A mulher alega inconsistências na ocorrência da PM, como:
As drogas não foram encontradas com o esposo, mas sim na área externa da residência onde ele só havia ido uma única vez, no dia em que foi preso;
O dono da residência, que estava no local, não foi preso pela PM;
Uma pessoa desconhecida entrou no local durante a ocorrência, carregando uma mochila.
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À época da prisão, em relatório, policiais alegaram que estavam em patrulhamento tático pela região quando visualizaram um homem com um volume na cintura, em frente a uma vila residencial. Segundo eles, ao visualizar a viatura, o suspeito entrou no local e trancou o portão com um cadeado.
Com isso, os agentes pularam o portão e abordaram os dois homens, o mecânico e o amigo dele. No local, eles encontraram cinco “tijolos” de maconha escondidos debaixo de uma pia na área externa da vila, segundo o relatório.
Câmeras de segurança registraram a chegada da Polícia Militar na rua. Nas imagens é possível ver o momento em que uma viatura para duas casas antes da vila, três policiais saem do carro, caminham até o imóvel e pulam o portão. As imagens, no entanto, não mostram nenhuma pessoa na frente da residência antes da chegada dos agentes de segurança.
Cerca de 40 minutos após a entrada dos policiais no imóvel, um motociclista passa pelo local e estaciona em frente a uma casa vizinha. Com uma mochila nas costas e sem tirar o capacete, ele entra dentro da vila onde a ocorrência acontece. O homem só sai do local no fim da ação da PM.
Motociclista chega ao local da ocorrência; ele vai embora no fim dela.
Arquivo pessoal
Em depoimento dado no dia em que foi preso, o mecânico negou ter envolvimento com o tráfico de drogas. Ele não tinha ficha na polícia e afirmou que só foi à vila de apartamentos para ajudar o amigo a comprar o som, após ver um anúncio de venda em um aplicativo de mensagens. Atualmente, ele está na Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (Pamc), na zona Rural de Boa Vista.
Ainda no dia da ocorrência, o dono da residência pediu que ele e o amigo colocassem o carro em que estavam dentro da garagem para que testassem o aparelho. Na ocasião, segundo depoimento, os PMs pularam o portão e disseram “a casa caiu, fiquem quietos”. Ele afirmou que só viu os entorpecentes quando chegou na delegacia.
Embora estivesse no local durante a ocorrência, o dono do imóvel onde as drogas foram encontradas não foi preso à época.
“Os próprios policiais entraram em contradição, falaram que não tinha nada com ele [marido], que não tinha nada no carro, falaram que realmente quando entraram tinha uma terceira pessoa. O Ministério Público disse que era muito frágil dizer que tinha uma terceira pessoa, mas tinha”, afirma a mulher.
No dia 20 de março, a Justiça de Roraima aceitou uma denúncia do Ministério Público de Roraima (MPRR) por tráfico de drogas e desobediência e manteve a prisão do marido da técnica de enfermagem e do amigo dele.
Família registrou caso na Corregedoria da PM
Com as imagens da rua no dia da ocorrência, a família do homem, de 32 anos, formalizou uma representação na Corregedoria da Polícia Militar de Roraima, no dia 30 de abril, alegando inconsistências na ação policial.
Procurada pelo g1, a corporação informou que um instaurou um inquérito para investigar o caso. O procedimento está na fase de coleta de provas e busca de elementos probatórios, ouvindo testemunhas, militares, inclusive a família denunciante.
Segundo a PM, a esposa dele foi recebida pelo pelo corregedor-geral da corporação no último dia 12 e “cientificada do andamento do processo e de todas as medidas necessárias” para a solução e esclarecimento do caso.
“Esclarece ainda que, comprovada a veracidade dos fatos, serão adotadas todas as providências de responsabilização dos envolvidos, respeitado o direito à ampla defesa e ao contraditório. A PMRR reafirma o compromisso com o fiel cumprimento da lei e respeito à dignidade da pessoa humana”, ressaltou.
Ainda de acordo com a mulher, as imagens também foram apresentadas ao Ministério Público de Roraima para que o órgão retirasse a acusação e opinasse pela absolvição. No entanto, segundo ela, o MPRR não quer aceitá-las.
“O Ministério Público precisa aceitar essa prova. Não tem nada que condene ele a estar ali [na penitenciária]”, afirmou a mulher.
“O que eu procuro é que a justiça dê a absolvição do meu esposo, a soltura dele. A gente não tem mais o que esperar porque tudo já foi colocado. Eu já esperei o que tinha que esperar, agora não dá mais para ficar esperando”, ressaltou.
Sede do Ministério Público de Roraima (MPRR), em Boa Vista
MPRR/Divulgação/Arquivo
Procurado, o MP informou que a Promotoria de Justiça Especializada em Crimes de Tráfico Ilícito de Drogas e Crimes Decorrentes de Organização Criminosa apresentou um parecer final da ação penal na última terça-feira (16).
Agora, o caso deve ir para decisão da Vara de Crimes de Tráfico Ilícito de Drogas, Crimes Decorrentes de Organização Criminosa e Crimes de “Lavagem” de Capitais.
Ainda segundo o órgão, as imagens apresentadas pela família devem ser colocada nos autos do processo, “para que todas as partes possam igualmente ter acesso e se pronunciar sobre os fatos em debate”.
“Tendo em vista que a parte possui advogado particular constituído, foi informado à familiar que o advogado deveria formular pedidos e juntar provas no processo para que o MPRR e a Justiça possam se manifestar nos autos”, ressaltou o órgão público, que informou ter repassado a informação a família.
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