
Grupo é suspeito de matar pelo menos 21 pessoas e tentar matar outras sete em um ano e oito meses, segundo Gaeco e Polícia Civil. Grupo filmava torturas e execuções para líder assistir, segundo polícia
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Mais de 100 pessoas são suspeitas de integrarem um “grupo de extermínio” investigado pelos assassinatos de pelo menos 21 pessoas no intervalo de um ano e oito meses em Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná.
As informações são da Polícia Civil do estado e do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Paraná (MP-PR), que afirmam que identificaram que o grupo também tentou matar outras sete pessoas no mesmo período.
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Associado ao tráfico de drogas, o grupo foi alvo de uma megaoperação policial em dezembro de 2024, que desencadeou novas investigações.
Segundo a polícia e o Gaeco, o chefe da organização criminosa ordenava as execuções de dentro da cadeia, e acompanhava os assassinatos por videochamada de dentro da cadeia. Saiba mais abaixo.
As equipes de investigação afirmam que, desde 2021, 61 pessoas já foram denunciadas por integrarem o grupo, e respondem por diversos crimes na Justiça.
A maior parte está presa. Entre os detidos, está um funcionário terceirizado do sistema prisional que, de acordo com a polícia, facilitava a entrada de celulares para Raylan.
Além delas, mais de 40 são investigadas pelas mesmas suspeitas.
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Uma das vítimas gravadas e torturadas por grupo criminoso
RPC
Grupo organizado e dividido por núcleos
Para Antônio Juliano Souza Albanês, promotor de justiça e coordenador do Gaeco na região de Ponta Grossa, o funcionamento do grupo era dividido em três núcleos, cada um com uma “especialidade”.
“Nós temos um núcleo responsável pelos homicídios, que mantém a hegemonia local dele através do medo/ameaça/violência. […] Um segundo grupo ligado ao tráfico de drogas, ou seja, as pessoas que vão fazer o comércio local dessa droga e também o transporte dentro do estado. […] E nós temos um terceiro núcleo, que é da lavagem de dinheiro”, afirma.
Segundo o promotor, o núcleo voltado à lavagem de dinheiro era o mais estruturado: ele se utilizava de pessoas físicas e jurídicas, contas bancárias, compra de imóveis e de veículos e outros artifícios para alocar o dinheiro do tráfico de forma legalizada.
“Para distanciar esse dinheiro do crime, para que eles possam usufruir e ter uma vida de alto nível – no caso das lideranças”, complementa.
Jovem assumiu chefia do grupo após chefe anterior ser preso, diz polícia
Luiz Fernando Everaldo da Silva
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Em 2021, o Gaeco identificou o primeiro suspeito de liderar o grupo criminoso em Ponta Grossa : Luiz Fernando Everaldo da Silva.
Segundo o órgão do MP-PR, ele era conhecido como “Gasolina”, por ter ateado fogo em uma mulher, e ficou foragido por quase um ano. O jovem foi encontrado e preso no final de 2022, aos 27 anos, no Rio de Janeiro, em uma comunidade dominada pela facção da qual ele fazia parte.
“A ligação dele com grupos criminosos daquele estado tornava confortável e seguro para ele se manter escondido. No entanto, ele foi localizado e preso, e hoje ele se encontra num presídio federal de segurança máxima”, afirma o promotor Antônio Juliano Souza Albanês.
Na sequência, a chefia do grupo foi assumida por José Raylan de Lima, de 26 anos, que na época estava detido na Casa de Custódia de São José dos Pinhais, penitenciária da região metropolitana de Curitiba.
José Raylan de Lima
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A polícia e o Gaeco afirma que teve acesso a trocas de mensagens que mostram que Raylan ordenava e acompanhava as execuções de dentro da cadeia. De janeiro de 2023 a agosto de 2024, foram pelo menos 21 assassinatos e outras sete tentativas, afirma o delegado Luis Gustavo Timossi.
“Ele ficava em chamada de vídeo com os executores, que mostravam para ele em tempo real a prática de homicídios. Identificamos situações, também, em que os homicídios eram gravados; não só homicídios, mas também torturas eram gravadas e encaminhadas posteriormente para esse indivíduo, porque ele queria as informações de como o homicídio foi praticado”, aponta o delegado.
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Entre os alvos, estavam traficantes, usuários de drogas e desafetos do grupo, e um dos pontos que chamou a atenção dos investigadores foi a frieza do líder do grupo.
Em uma das mensagens interceptadas, Raylan afirma estar deitado planejando matar três pessoas pela “semana estar muito parada”. Em outra, após citar um dos alvos para a ex-namorada e ela falar ter dó do filho da futura vítima, Raylan diz que “quem perdoa é Deus”, e fala que “se for pensar assim, não mata ninguém”.
“É doentio, né?! Demonstra uma personalidade voltada para a prática de crimes, de alguém, que não tem nenhum valor pela vida humana, tem até um desprezo. Ele determinava essas mortes, e sentia o que parece um prazer em acompanhar essas execuções sendo praticadas, demonstrando uma personalidade de pessoa inapta ao convívio social”, avalia o delegado Timossi.
Após as descobertas, a polícia também pediu a transferência de Raylan para um presídio de segurança máxima.
Em nota, a defesa de José Raylan de Lima disse apenas que tem conhecimento de cinco processos, sendo que quatro somam condenações de 30 anos e 4 meses de reclusão e o outro está em fase de recurso.
A defesa de Luiz Fernando Everaldo da Silva nega as acusações da polícia e do Gaeco, declarando não haver provas de que o homem seja líder de uma organização criminosa ou mandante de crimes. A defesa também ressalta que ele foi absolvido de sete acusações.
Série de reportagens especiais
Detalhes sobre a investigação relativa ao grupo de extermínio foram tema de uma série de três reportagens especiais sobre a segurança pública de Ponta Grossa produzida pela RPC, afiliada da TV Globo no Paraná.
Confira os materiais abaixo.
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