Brigadistas Yanomami são treinados para prevenir e combater incêndios no território indígena


Mais de 16 indígenas da comunidade Xirixana participaram do treinamento do Ibama para monitorar, prevenir e combater incêndios florestais e queimadas não autorizadas em 2025 Treinamento do Ibama para brigadistas indígenas em Roraima
Divulgação/Ibama
Mais de 16 indígenas brigadistas Yanomami participaram de um treinamento especial para monitorar, prevenir e combater incêndios florestais e queimadas em 2025 no maior território indígena do Brasil. A capacitação é parte da programação da primeira Oficina de Educação Ambiental promovida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).
O treinamento do Ibama sobre Manejo Integrado do Fogo (MIF) envolveu brigadistas que fazem parte do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) de diferentes povos, incluindo também Macuxi, Wapichana e Yekuana e seguiu até o fim de fevereiro.
Os brigadistas Yanomami que participaram do treinamento são da comunidade Xirixana e das comunidades da Floresta Nacional de Roraima, em Mucajaí e Alto Alegre. Os 20 brigadistas da comunidade Xirixana são da Brigada Yanomami, enquanto os 21 brigadistas das comunidades da Floresta Nacional de Roraima fazem parte da Brigada Apoio Yanomami.
Além das bases Yanomami, o treinamento também formou integrantes para outras duas brigadas, sendo elas:
Na Brigada Raposa, no município de Normandia – 25 brigadistas;
Brigada Malacacheta, no município do Cantá – 19 brigadistas.
Entre os brigadistas que participaram do treinamento estava Denilson Xirixana, de 48 anos, o mais velho da brigada Yanomami.
“Entrei para o Prevfogo depois de um grande incêndio que destruiu a minha casa, a floresta ao redor e os animais”, disse o brigadista, que precisou viver com a família na casa de um amigo até construir a nova moradia.
🧯🔥 Ajudar a comunidade
Treinamento tem o objetivo de preparar os brigadistas indígenas para monitorar, prevenir e combater incêndios florestais e queimadas não autorizadas
Divulgação/Ibama
Sob o efeito do fenômeno El Niño, em 2024, Roraima registrou um recorde histórico no número de focos de calor: 5.358, o maior número para o estado desde 1998, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) começou a monitorar as queimadas na Amazônia.
O número supera o registrado cinco anos antes, em 2019, quando o estado teve 4.784 focos de calor. Tendo esses número em vista, o treinamento busca preparar os brigadistas para o período seco no estado.
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Marcel Xirixana também viu a floresta em chamas neste período. Ele relatou que os mutuns, veados e a onça-pintada agonizavam no meio do fogo.
“Cada indígena viveu uma experiência triste por causa dos incêndios”, disse o brigadista Yanomami.
Para não deixar o fogo destruir novamente a natureza, dezesseis indígenas da comunidade Xirixana se uniram para formar a Brigada Yanomami. Todos passaram pelo curso de formação oferecido, em 2024, pelo Prevfogo.
Este ano, a Oficina de Educação Ambiental em Manejo Integrado do Fogo (OEAMIF), do Ibama, trouxe um novo aprendizado.
“Os indígenas achavam que era só pra combater incêndios, e agora aprenderam que é preciso trabalhar com prevenção por meio de ações educativas”, destacou o chefe da Brigada Yanomami, Zaqueu Ângelo.
Além disso, o conteúdo da oficina está sendo traduzido para a língua nativa para facilitar a compreensão das comunidades indígenas.
🧯🌲 Controlar os focos de calor
Indígenas da comundiade Xirixana foram a Brigada Yanomami
Divulgação/Ibama
De acordo com o Ibama, a educação ambiental é a principal ferramenta para sensibilizar e capacitar os indígenas. “Os brigadistas educadores ambientais serão multiplicadores de atividades sustentáveis, promovendo boas práticas nos territórios onde as brigadas atuam”.
As oficinas são baseadas na metodologia participativa da educação popular e tem suas raízes na Educação Ambiental na Gestão Ambiental Pública (EA na GAP) do Ibama.
As atividades incluem visitas de campo e informações sobre os tipos de queimas, prescrita e controlada, e a troca de conhecimentos tradicionais referentes ao uso do fogo e seu impacto sobre a vegetação, os animais, a cultura e a economia da região.
🔎 Queima Prescrita: é o uso necessário do fogo em ecossistemas e ambientes adaptados a ele, como o lavrado, para florescer a vegetação. Também para combater o fogo em ecossistemas sensíveis, como a floresta.
🔎 Queima Controlada: é o uso do fogo de forma planejada, em áreas e períodos pré-definidos, como ferramenta para a produção agrícola ou pecuária, limpeza de áreas, combate a pragas e pestes.
Em cada etapa os indígenas participam de dinâmicas de interação e integração, que resultam em reflexões sobre a atuação de cada um no processo educativo da comunidade.
“É a construção coletiva de um espaço pedagógico que nos abre as portas para entrar e criar a empatia necessária nas comunidades em que trabalhamos, nas quais os brigadistas são selecionados”, explicou Ricardo Ayres, coordenador da Prevfogo.
As oficinas permitem aos educadores ambientais do Ibama, lotados nos diversos estados do Brasil, potencializar a capacidade de ação do Prevfogo, enquanto ampliam seu horizonte profissional pelas experiências que vivenciam nas comunidades tradicionais.
Já para os brigadistas supervisores do Prevfogo, é uma oportunidade de levar o conhecimento do manejo integrado do fogo para toda a sociedade, principalmente para os trabalhadores rurais que utilizam o fogo como única ferramenta para preparação do solo, como explica o supervisor estadual das Brigadas do Prevfogo de Roraima, Bruno Eduardo Wapichana.
“Esse conhecimento pode impactar de forma positiva a vida dos indígenas, que já usam o fogo de forma tradicional, e isso ajuda a reduzir as consequências das mudanças do clima que o Brasil vem passando”.
O produto das oficinas é a apresentação do Plano de Ações Educativas, elaborado pelos próprios brigadistas indígenas, a ser implementado por cada etnia em seus territórios, considerando o calendário de queima prescrita e controlada.
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