Mãe de bebê que morreu durante resgate na enchente usa colar com foto da filha e planeja ONG: ‘uma estrelinha só nossa’


Agnes da Silva Vicente foi encontrada sem vida após cair de barco que fazia resgate da família; irmã gêmea dela sobreviveu. Segundo a Defesa Civil do estado, desastre natural deixou 182 vítimas. Bebê Agnes, vítima da enchente em Canoas, em colar
Reprodução/ Instagram
Passados dois meses desde que a enchente no RS tirou a bebê Agnes, de sete meses, do colo da mãe, Gabrielli Rodrigues da Silva, de 24 anos, ela luta para se reerguer.
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Mãe de outros três filhos, ela busca força para enfrentar o luto nas crianças e no projeto de criar um ONG que ajude outras famílias.
“A gente explicou que a ‘maninha’ é uma estrelinha agora, que é uma estrelinha só nossa. Eu comprei uma estrelinha que brilha e coloquei no quarto dela e de noite ela acende pra dormir”, relata.
A bebê Agnes da Silva Vicente foi encontrada sem vida após cair de um barco durante uma tentativa de resgate dela e de familiares em uma região inundada em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, no dia 4 de maio (relembre o caso abaixo). Ela está entre as 31 vítimas contabilizadas no município, dentre as 182 vítimas no Estado , segundo a Defesa Civil.
Recentemente, a mãe ganhou um presente especial que vai sempre carregar consigo: um colar com o rosto de Agnes registrado (veja foto acima).
“Só de ver o rostinho dela, um pedacinho dela andando comigo no meu colo, 24 horas, é uma partezinha que eu posso estar admirando toda hora”, relata.
Depois de deixar a casa por conta das fortes chuvas, a família ficou no abrigo da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, até conseguir ir para a nova residência.
A família comprou uma outra casa, localizada perto de onde morava anteriormente, no bairro Harmonia. As perdas materiais foram significativas: “o que a gente conseguiu recuperar foi a mesa, o fogão e a TV, porque de resto, nada, nada, nada”, conta.
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Traumas da enchente
Gabrielli também é mãe de Ágata, irmã gêmea de Agnes, de Gabriel, de dois anos, e de Alice, com seis anos de idade.
As gêmeas Ágata e Agnes
Reprodução/RBS TV
A adaptação não tem sido fácil, conta a mãe. Na volta à vida fora do abrigo, os filhos adotaram comportamentos que a mãe acredita que sejam decorrentes da cheia.
Apesar de ainda pequena, a primogênita já entende melhor do que os irmãos o que está acontecendo aos seus seis anos de idade. No entanto, ela ainda pergunta onde está a irmã e diz que sente saudade.
Já Ágata, agora com nove meses, gêmea de Agnes, chora quando escuta o barulho de água, “para dar banho é um sacrifício”, atitude que não era normal anteriormente. “Sempre dei banho nela no chuveiro comigo”, conta a mãe.
O filho do meio, Gabriel, começou a acordar durante a noite: “acorda chorando desesperado, do nada”.
Gabrielli admite que há momentos particularmente desafiadores:
“Tem um momento que é horrível, que é quando eu mais decaio, quando eu estou sozinha, longe das crianças”, desabafa.
ONG
A mãe se apega a um sonho que a mantém motivada: criar uma ONG em homenagem a Agnes.
“Levar o nome dela longe, é isso que me deixa de pé. É um sonho. Eu quero poder ajudar outras famílias, assim como muitas me acolheram. Quero poder passar um pouco da força que eu tenho para algumas mães que, quem sabe, vão precisar”, comenta.
Ela reconhece que ainda há um longo caminho pela frente antes de poder realizar esse plano e que precisa conseguir recursos. “Muita gente já se disponibilizou a me ajudar: médico, enfermeira, psicóloga… Mas eu preciso ainda botar minha vida em ordem para depois poder ajudar”, conta.
“Eu vou dizer que estamos bem, na medida do possível”, conta. “É difícil, estamos tentando, aos poucos, conforme vai dando”, desabafa Gabrielli.
Relembre o caso
Roupa da bebê Agnes da Silva Vicente
Arquivo Pessoal
A morte da bebê Agnes foi confirmada pelos pais, em publicações nas redes sociais, no dia 12 de maio. A menina desapareceu no dia 4 daquele mês, após cair do barco de resgate em uma região inundada em Canoas.
A irmã gêmea de Agnes também estava na embarcação e conseguiu ser salva. Ela foi levada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Universitário de Canoas.
O pai não estava presente no momento do resgate, pois, de acordo com ele, “primeiro [os socorristas] estavam resgatando as mulheres e crianças”.
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