Alunos da UFRR são atacados por cães que vivem em campus de Boa Vista e pedem providências: ‘insegurança’


De acordo com estudantes ouvidos pelo g1, cerca de 20 cachorros de rua vivem dentro do campus Paricarana, em Boa Vista, e os ataques acontecem, em sua maioria, a noite. Ferimentos causados por cachorros da UFRR à aluna Adriana Medina
Arquivo Pessoal/Adriana Medina e Arquivo Pessoal/Karen Suele
“Foi um tormento e um trauma, quase decidi por trancar meu curso”, desabafa a aluna Rafaella Rendeiro, de 35 anos, do curso de pedagogia da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Ela é uma das estudantes do campus Paricarana, em Boa Vista, que foi atacada por cães de rua que vivem no local. O aumento no número de ataques dos animais tem gerado preocupação, especialmente entre os alunos do turno da noite, que convivem diariamente com a sensação de insegurança ao caminhar pelo campus.
O ataque à Rafaella aconteceu em outubro do ano passado, quando ela foi cercada por um grupo de sete cachorros que vivem na universidade. A mordida deixou uma cicatriz na perna e também traumas. Hoje, ela anda pelo campus com uma vara para afugentar os cães que se aproximam.
De acordo com ela, o ataque aconteceu próximo à guarita do campus, onde há pouca iluminação, quando estava saindo.
“Tentei manter a calma, mas eles me cercaram. Um deles mordeu minha perna, senti o sangue escorrer e comecei a chorar. Corri até a guarita e eles se dispersaram. Foi horrível”, conta a estudante.
Cachorros de rua andando pelo campus Paricarana da UFRR livremente
Nalu Cardoso/g1 RR
O g1 ouviu neste domingo (27) alunos do curso de pedagogia que têm aulas à noite em um bloco afastado, o Centro de Educação (Ceduc). Eles relataram casos de mordidas, ataques e perseguições por cães no campus e pedem que a universidade tome providências, incluindo o resgate dos animais. De acordo com eles, cerca de 20 cachorros vivem livres e em bando no campus.
A reportagem procurou a coordenação de comunicação da UFRR e questionou se a universidade tem ciência dos ataques, se há algum plano de resgate para esses animais e se presta assistência aos alunos atacados, mas não recebeu nenhuma resposta até a última atualização desta matéria.
‘Hoje eu ando com medo na universidade’
Ferimentos causados por cães à Rafaella Rendeiro na UFRR
Arquivo Pessoal/Rafaella Rendeiro
O ataque dos sete cachorros na UFRR deixou cicatrizes também emocionais em Rafaella. Hoje, traumatizada, ela anda com um bastão em punho para afugentar os cachorros que tentam se aproximar dela enquanto anda pelo campus.
Ela relembra que, no dia do ataque, chegou a pedir ajuda a um guarda da universidade que “não fez mais do que lamentar o ocorrido”.
“Ele disse que não podia fazer nada e comentou que muita gente já tinha sido mordida. Me disseram que esses seguranças não estão ali para fazer nenhuma segurança dos alunos. Eles estão ali para para preservar, para proteger o patrimônio e não as pessoas”, disse a aluna.
O g1 questionou a UFRR se a postura do guarda é a correta diante da situação e aguarda resposta.
Centro de Educação (Ceduc) da Universidade Federal de Roraima (UFRR)
UFRR/Divulgação
Na manhã seguinte ao ataque, ela foi a um posto de saúde para iniciar o tratamento e precisou passar por uma série de procedimentos, já que a mordida canina é um dos transmissores da raiva humana.
Raiva: o que é, transmissão, sintomas, diagnóstico e prevenção
“Passei a tarde inteira lá para ser atendida. Como estava escuro no momento do ataque, não soube nem descrever o cachorro. Hoje eu ando com medo na universidade”, relata.
Depois de ser vacinada e medicada, ela ainda enfrentou um período difícil de trauma e medo. Ela relatou que precisou tratar com psicólogo o medo que adquiriu de cachorros. A cicatriz que ficou do ataque foi tampada com uma tatuagem.
“Até hoje o sentimento é de medo e insegurança. Eu confesso que ando com objetos para me defender de novos possíveis ataques sempre que possível. Saímos da aula em grupo de pelo menos cinco pessoas pois eles ficam mais intimidados de atacar, mesmo assim eles ainda latem para nós”.
Tatuagem feita pela estudante Rafaella Rendeiro para cobrir cicatriz de ataque de cães na UFRR
Arquivo Pessoal/Rafaella Rendeiro
‘Tenho evitado ao máximo estar no campus’
Adriana Medina, de 21 anos, também é aluna de pedagogia e foi atacada por um cachorro nas duas pernas no dia 19 de setembro. Com várias cicatrizes por conta das mordidas, ela precisou de atendimento médico e hoje vive com medo de ir até o campus.
Ferimentos causados por cachorros à Adriana Medina, aluna da UFRR
Arquivo Pessoal/Adriana Medina
“Meu sentimento diante disso é medo, tenho evitado ao máximo estar no campus até mesmo faltando a aulas”, disse a estudante ao g1.
Adriana procurou a coordenação do curso e foi orientada a levar o caso à ouvidoria da universidade, mas foi informada de que a UFRR não se responsabilizaria pelo ataque.
“Eles disseram que não era responsabilidade deles sendo que eu fui atacada nas duas pernas dentro do campus. A gente sente insegurança”.
‘Sentimento de desproteção’
Karen Suele, de 26 anos, outra estudante de pedagogia, não chegou a ser mordida pelos cães que vivem no campus, mas na última quinta-feira (24) precisou correr de três deles e se proteger com a própria mochila para espantá-los enquanto ia no Restaurante Universitário (RU) para jantar.
Ela relata que vários colegas que precisam atravessar o campus à noite para pegar ônibus já foram atacados ou quase atacados, como ela.
“É muito triste e preocupante. Conheço uma estudante que ficou três semanas sem trabalhar por conta de uma mordida, e ninguém sabe se esses animais são vacinados”, disse a jovem.
Cachorros flagrados por estudantes no restaurante universitário da UFRR
Arquivo Pessoal/Karen Suele
Segundo Karen, a situação já foi levada à ouvidoria e até ao reitor, mas não houve resposta concreta. De acordo com ela, os alunos decidiram se organizar para cobrar providências à universidade.
“Quase todos os dias, algum aluno é mordido ou ferido pelos cachorros. Diante dessa situação, todos nós decidimos agir. Descobrimos que outras pessoas já tinham levado o problema até o reitor, mas sem obter nenhuma resposta efetiva. Na ouvidoria, disseram para essa aluna que ela deveria tomar medidas judiciais, pois a situação com os cachorros exige providências legais”.
Além do medo dos ataques, os alunos se queixam da sensação de abandono pelas autoridades da universidade e dos órgãos responsáveis. Rafaella diz que tentou entrar em contato com autoridades responsáveis pelo controle de animais.
“Os cachorros eles andam em bandos dentro da universidade. No RU tem três deles. Acreditamos que eles fiquem ali porque alguém alimenta eles e aí por conta disso eles ficam ali. Tem sido motivo de medo para nós alunos e servidores também”.
O g1 procurou a Prefeitura de Boa Vista, responsável pelo Centro de Zoonoses da capital e questionou se recebeu alguma denuncia sobre os cães que vivem na UFRR. A reportagem aguarda resposta.
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